Cultura - Viagem

Não falo que sou brasileira no meu currículo nos Estados Unidos

7 de Junho de 2017
Imagem do Flickr

Por Júlia Contarelli

Há mais ou menos uma semana atrás, aqui no Texas, meu namorado me pediu para revisar o currículo dele. Eu estava esperando algo bem formal, básico e direto, já que ele se formou em Finanças, mas fui surpreendida. No seu currículo, bem no topo da página: Scottish.

Ele é Escocês, eu Brasileira. Entendem porquê eu estranhei a decisão dele de colocar a Nacionalidade no currículo? Minha experiência nos Estados Unidos me fez ter certeza de que nada bom me aconteceria se as pessoas soubessem de onde eu sou, principalmente tratando-se de trabalhos. A experiência dele o fez acreditar que colocando a nacionalidade no topo da página só beneficiaria seu currículo, trazendo uma diferença positiva sobre os outros concorrentes.

Comecei então a prestar atenção a como as pessoas desconhecidas reagem quando ouvem os nossos sotaques, que são bem fortes e diferentes.

Quando conversando com ele, os termos são mais próprios, tudo um pouco mais formal, por sinal “I always wanted to get married in Scotland” é algo que mulheres falam regularmente para ele. Comigo o papo é um pouco diferente, tudo bem mais coloquial, o que é de se esperar, com o Brasil sendo um país tropical e tudo mais. Mas me chamou a atenção os tópicos que viraram comuns nessas ocasiões: mulheres gostosas, “Brazilian butt lift”, “Brazilian wax”, criminalidade. Para a minha surpresa, não conversam muito comigo sobre futebol, três anos atrás esse era o tópico favorito dos gringos com brasileiros.

Para ser honesta o pessoal aqui tira um sarro do meu namorado em relação a Quilts. Assistam Shrek em Inglês, o Ogro é escocês.

A minha moral aqui é que eu nunca colocaria que sou Brasileira no meu currículo, isso só me levaria para o fim da pilha.  Já na situação do meu querido escocês, esse detalhezinho no topo da página é interessante no olho de quem contrata.

Entendam que sou muito orgulhosa em ser brasileira, é um privilégio ter vindo de um país tão maravilhoso como o meu Brasil, mas o mercado de trabalho dos Estados Unidos não me olha com os mesmos olhos.

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