Cultura - Teatro

Matheus Nachtergaele faz homenagem poética à mãe em temporada de 1º a 30 de abril noTeatro Raul Cort

17 de Março de 2017

 

‘Processo de Conscerto do Desejo’  traz à luz os versos de Maria Cecília Nachtergaele, que se matou quando o ator tinha apenas três meses. Repertório musical afetivo dá o tom do espetáculo, que circulou pelos mais importantes festivais de cultura do Brasil. Matheus foi indicado como Melhor Ator nos prêmios Cesgranrio e Shell em 2016.

Foto: Sergio Cubas

 

Matheus Narchtergaele subiu ao palco do Teatro Poeirinha ao lado dos músicos Luã Belik (violão) e Henrique Rohrmann (violino) para as primeiras apresentações de Processo de Conscerto do Desejo, em novembro de 2015. Com capacidade para 60 pessoas, a experiência foi a de habitar um “pequeno útero” enquanto revelava aos espectadores quem foi Maria Cecília.

 

Não se trata de uma personagem ou mesmo de uma peça teatral. “É um recital à moda grega, é um lamento, mas é iluminado”, explica o ator, diretor e filho da poeta, que se matou aos 22 anos. À época, Matheus tinha apenas três meses de vida. Em Processo de Conscerto do Desejo os versos de Maria Cecília Nachtergaele são entremeados por canções que gostava de ouvir.

 

O espetáculo entra em cartaz no Teatro Raul Cortez, de 1º a 30 de abril, numa temporada definida pelo artista como “mais piafiana”, considerando o palco italiano e a acústica imponente do espaço. “O tom mais íntimo dá lugar ao trágico, à catarse. Está ali o ator, o filho. Ele recita poesias da mãe suicida neste concerto. Isso é muito forte e muito sincero. Eu tinha receio que essa história só dissesse respeito a mim, entretanto as pessoas acabam se conectando com o sentido do viver”, conta.

 

Matheus lembra que demorou muitos anos para decidir o que fazer com o caderno de poesias da mãe que recebeu de presente do pai aos 16 anos. “Era uma espécie de vespeiro emocional e esperei até sentir que não era mais tão perigoso, que as picadas haviam se cicatrizado”, diz. Os textos de Maria Cecília ganharam o palco antes mesmo da publicação em livro (em 2016, A Mariposa, de Maria Cecília Nachtergaele, foi lançada pela Polvilho Edições na FLIP). “O teatro é lugar da cerimônia, é o meu lugar. Fiz o meu festejo fúnebre e a minha celebração como num ritual japonês colorido”, diz.

 

Cada sessão é uma experiência diferente neste trabalho em progresso com caminhos que plateias e amigos ajudam a definir. “Na temporada do Poeirinha recebi aconselhamentos artísticos do Guel Arraes, do Cláudio Assis e do Jura Capela (todos cineastas) em relação a alguns detalhes como timbre da voz, o tom mais doce, o mais forte e até mesmo à dose de loucura”, revela.

 

Moldando o afeto, a dor, a beleza e tantos sentimentos, Processo de Conscerto do Desejo faz com que a presença de Maria Cecília seja transformadora e tocante. “Não sou nada místico, mas é um pequeno milagre porque ela vive todas as noites, ao meu modo. É uma experiência que transformou o meu pesar e me mostrou a beleza de ser quem sou, apesar de não ter conhecido essa grande mãe. Faço esse espetáculo com uma imensa alegria”, conta.

 

Processo de Concerto do Desejo cumpriu mais de 74 bem-sucedidas apresentações. Matheus Nachtergaele foi indicado como Melhor Ator nos prêmios Cesgranrio e Shell em 2016. Os principais festivais de cultura e cidades do Brasil já aplaudiram: Rio de Janeiro (Teatro Poeirinha, Espaço Sérgio Porto e Cidade das Artes), São Paulo (Sesc Pompéia), Brasília (Teatro Plínio Marcos), Festival Janeiro dos Grandes Espetáculos (Recife), Festival de Teatro de Curitiba, Mostra Gamboaavista, Festival Porto Alegre em Cena, Festival Tiradentes em Cena, FLIP 2016 (Em Paraty onde lançou A Mariposa), Filo – Festival Internacional de Londrina, Festival Festa (Santos), Belo Horizonte (CCBB), entre outros.

 

Processo de Conscerto do Desejo -  Por Matheus Nachtergaele

 

Poucas palavras se confundem tanto em nossa língua quanto 'concerto' e 'conserto'. Aqui, elas se mesclam vertiginosamente. A palavra desejo, em filosofia, seria a tensão em direção a um fim de onde se espera satisfação. Tradicionalmente o desejo pressupõe carência, ou alguma forma de indigência: Um ser que não carecesse de nada, não desejaria nada. Seria um ser perfeito, um Deus. Por isso a filosofia, tantas vezes, considera o desejo como característica primeira do ser imperfeito, do ser finito. Quero consertar meu desejo com poesia, num concerto. Explico: minha mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele, faleceu quando eu era um bebê de três meses. Dela, me restaram seus poemas, lindos e maduros, escritos de uma jovem mulher moderna e triste, e essa veia que me marca a testa quando rio ou choro muito. Em Processo de Conscerto do Desejo, acompanhado pelo jovem violonista Luã Belik e do violinista Henrique Rohrmann, direi finalmente os poemas que guardei nos olhos e na alma como única herança dela. O espetáculo é simples assim: Um homem (que por acaso é um ator) diz no palco as palavras escritas por sua mãe. Um violão (não por acaso, pois Maria Cecília amava os violões) o acompanha. É só isso, se isso for pouco.

 

Sinopse

Matheus Nachtergaele recita poesias escritas por sua mãe, Maria Cecília, morta em 1968, e relembra músicas de que ela gostava. Na homenagem, o ator é acompanhado pelos músicos Luã Belik, ao violão, e Henrique Rohrmann, no violino.

 

Sobre Matheus Nachtergaele

Matheus Nachtergaele é um ator e diretor brasileiro com intensa atuação no teatro, cinema e televisão. Iniciou sua carreira teatral com o cultuado diretor paulista Antunes Filho, em 1989. No ano seguinte, ingressou na Escola de Arte Dramática (USP-SP), e logo estreou nos palcos profissionalmente.

 

Com o Teatro da Vertigem o grupo, fundado em 1992 e dirigido por Antônio Araújo, protagonizou os espetáculos Paraíso Perdido e O Livro de Jó, recebendo por estas atuações prêmios de melhor ator, entre eles os prêmios Shell, Mambembe e APCA. Em seguida, atuou nos espetáculos Da Gaivota, Woyzecko Brasileiro e A Controvérsia, todos premiados e bem recebidos pelo público e pela crítica especializada.

 

Nos cinemas, estreou sob a direção de Bruno Barreto, em 1997, com o filme O que é isso, Companheiro?. Desde então, Matheus atuou em cerca de trinta filmes de longa-metragem, como Central do Brasil e O Primeiro Dia, de Walter Salles Jr, O Auto da Compadecida e O Bem Amado, de Guel Arraes, Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Amarelo MangaBaixio das Bestas e Febre do Rato, de Claudio Assis. Por estes e outros trabalhos recebeu inúmeros prêmios como ator, incluindo APCAs, dois Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e outros muitos em Festivais de Cinema, como o Cine PE, Cine Ceará, e Festival do Rio.

 

Fez sua estreia cinematográfica em 2008, como roteirista e diretor do longa-metragem A Festa da Menina Morta, exibido na mostra UnCertainRègard, na Seleção Oficial do Festival de Cannes. O filme recebeu diversos prêmios em várias categorias em festivais de cinema no Brasil e no exterior. E no conceituado Festival de Chicago, no Festival de Cinema de Gramado e no Festival do Rio, Matheus Nachtergaele recebeu o prêmio de Melhor Diretor.

 

Na televisão atua continuamente em produções da Rede Globo de Televisão. Nesta seara, destacam-se trabalhos como Hilda Furacão, Os Maias, Decamerão, Ó Paí, ó!, Da Cor do Pecado, América, Cordel Encantado e no remake de Saramandaia, estrelando como o 'Seu Encolheu'.

 

Em 2014, foi convidado pelo grupo Entre & Vista para dirigir o espetáculo O País do Desejo  do Coração, de Wiliam B. Yeats na cidade de Tiradentes. No cinema, lança o filme Trinta, com direção de Paulo Mackline. Com a estreia a Série Zé do Caixão no Canal Space, em seis episódios com direção de Vitor Mafra, em novembro de 2015, colheu elogios da crítica por sua interpretação como o cineasta José Mojica Marins.

 

Em 2015, foi premiado como Melhor Ator, no Festival de Cinema de Gramado, com o longa-metragem Big Jato. Também atuou em Mãe Só Há Uma (2014), da diretora Anna Muylaert. Protagonizou e foi premiado no curta Quando Parei de Me Preocupar com Canalhas, de Tiago Vieira. Também filmou em Buenos Aires (2015), com Lucrecia Martel, o longa-metragem Zama, que será lançado em 2017.

 

Matheus Nachtergaele poderá ser visto na televisão em trabalhos inéditos como Carcereiros e Filhos da Pátria. O ator acaba de filmar em Pernambuco Piedade, de Cláudio Assis, com roteiro de Hilton Lacerda, Ana Francisco e Dillner Gomes.

 

Sobre Luã Belik

Natural de São Paulo, radicado no Rio há sete anos, Luã Belik é formado em violão pela UNIRIO. Atua como violonista, intérprete, arranjador, compositor e professor de música. De formação clássica, tem grande influencia de outros gêneros, como choro, jazz e MPB. Participou de vários projetos musicais, como Violões de Tiradentes. Atualmente, também desenvolve trabalhos com o seu duo instrumental, Belik & Vivas, além da composição de seu show e álbum solo.

 

Sobre Henrique Rohrmann

Nascido em Tiradentes, Minas Gerais, Henrique Rohrmann iniciou seus estudos de música em 2004, na Sociedade Orquestra e Banda Ramalho de Tiradentes. Em  2011 integrou o grupo Capela Del Rey, sob a regência do maestro Modesto Fonseca, em turnê pelo Centro Oeste e Norte do Brasil. Compôs e executou a trilha sonora da adaptação brasileira do espetáculo O País do Desejo do Coração, de W.B.Yeats, sob a direção de Matheus Nachtergaele. Participou do show Bibi in Concert e do show em homenagem ao centenário de Juscelino Kubitsheck, com a Orquestra Jovem de Diamantina. É integrante das orquestras Ramalho de Tiradentes (MG), Lira Sanjoanense, Ribeiro Bastos e Sociedade de Concertos Sinfônicos, em São João del-Rei. É diretor-presidente da Sociedade Orquestra e Banda Ramalho e desenvolve pesquisa e escreve livro sobre a vida e obra do compositor Francês Fernand Jouteux.

 

Ficha Técnica

 

Concepção e atuação: Matheus Nachtergaele. Textos: Maria Cecília Nachtergaele. Violão: Luã Belik. Violino: Henrique Rohrmann. Design Som/Operação de Som: Andrea Zeni. Iluminação: Orlando Schaider. Contra regra/Camareira: Cedeli Martinusso. Corpo: Natasha Mesquita. Voz: Célio Rentroya. Artes visuais: Cláudio Portugal e Karina Abicalil. Mídia Sociais: Rodrigo Pires. Direção de Produção: Miriam Juvino. Produção Executiva: Valéria Luna. Assessoria Jurídica: Lilian Santiago (Coarte) Produção Local / SP: Ideias & Ideias Produções Artísticas. Produção Executiva SP: João Federici / Josi Geller. Assessoria de Comunicação: Arteplural. Realização: Pássaro da Noite

 

Serviço

Processo de Conscerto do Desejo, de Matheus Nachtergaele. De 1º e 30 de abril. Sextas, às 21h30; sábados, às 21h e domingos, às 18h. Teatro Raul CortezEndereço: RDr. Plínio Barreto, 285 - Bela Vista. Telefone: (11) 3254 1631. Classificação: 16 anos Duração: 60 minutos. Ingressos (inteira): R$ 40 (sextas) e R$80 (sábados e domingos). Venda de Ingressos: Pelo telefone (11) 2626-5282; pelo site compreingressos.com e na bilheteria do teatro (de terça-feira a quinta-feira, das 14h às 20h. Sexta-feira a domingo, das 14h até o início do espetáculo). Capacidade: 513 lugares

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