Colunistas - Rodolfo Bonventti

Uma tragédia urbana inspira Janete Clair e ela escreve Duas Vidas para a TV Globo

17 de Setembro de 2016

 

A construção de uma linha do metrô em um bairro da cidade do Rio de Janeiro que desaloja e mexe com a vida de várias pessoas, foi o mote para Janete Clair criar a telenovela “Duas Vidas”, que estreou em 13 de dezembro de 1976 no horário das 20 horas na TV Globo.

A partir dessa tragédia urbana, Janete construiu um texto bem realista e atual, já que as obras das primeiras linhas do metrô carioca estavam em andamento e tumultuavam a vida na Cidade Maravilhosa. Em seus 154 capítulos, “Duas Vidas” mexeu com a população ao mostrar a história de vários moradores do bairro do Catete, o impacto da desapropriação em suas vidas e o recomeço para eles em outros lugares e em outras condições.

Dirigida por Daniel Filho, Gonzaga Blota e Jardel Mello, a história tinha como personagens centrais uma jovem viúva, Leda Maria com seu filho pequeno, Téo, e a sua dificuldade em criar o filho depois da desapropriação, longe de vizinhos e amigos que a ajudavam nessa tarefa diária.

Para viver a personagem Leda Maria, Daniel Filho escolheu a própria mulher na época, a atriz Betty Faria, e para viver seu par romântico na história, o profissional maduro e bem sucedido Victor Amadeu, novamente Francisco Cuoco, com quem Betty já havia contracenado em “Pecado Capital”, novela anterior de Janete Clair. Para movimentar a trama e formar um triângulo amoroso surge o personagem de um jovem aspirante a cantor, Dino César, que também vai se relacionar com Leda Maria, e foi entregue ao jovem ator Mário Gomes.

O que Daniel Filho não podia imaginar é que a história acabaria com a separação dele e de Betty Faria na vida real, porque a atriz se envolveu pra valer com Mário Gomes e engatou um romance com ele antes do final da novela. A situação provocou também colocar o ator em uma “geladeira” por algum tempo na emissora, como represália do poderoso Daniel Filho ao que aconteceu.

Janete Clair também teve problemas com a Censura Federal que na época considerou um atentado à moral e aos bons costumes, o relacionamento entre uma mulher de mais de 40 anos, a personagem Sonia interpretada por Isabel Ribeiro, com um jovem de pouco mais de 20 anos, o Maurício, vivido por Stepan Nercessian. Apesar da torcida do público pelo relacionamento entre os dois, Janete teve que suavizar o envolvimento dos personagens por uma solicitação da Censura.

Um dos grandes destaques do elenco foi o trabalho simpático e envolvente do então menino Carlos Poyart, que vivia o Téo, e que ganhou uma grande legião de fãs, mas posteriormente desistiu da carreira quando se tornou adulto.

A novela também marcou a estreia da jovem Christiane Torloni que depois se transformaria em uma das principais estrelas das novelas e séries globais, e no grande elenco, além dos já citados estavam Susana Vieira, Luiz Gustavo, Arlete Salles, Sadi Cabral, Flávio Migliaccio, Nívea Maria, Milton Moraes, Ruth de Souza, Cecil Thiré, Neuza Amaral, Alberto Perez, Vera Gimenez, Jaime Barcelos, Heloisa Helena, Elza Gomes, Cleyde Blota, Moacyr Deriquém, Hélio Ary, Ana Ariel, Zezé Motta, Dary Reis, Isolda Cresta, Augusto Olímpio, Yaçanã Martins, Suzana Faini, Diogo Vilela e Laura Soveral.


Foto 1 - A abertura da novela de Janete Clair para a TV Globo em 1977

Foto 2 - Francisco Cuoco interpretou o empresário foi Victor Amadeu na novela

Foto 3 - Betty Faria e o menino Carlos Poyart, uma revelação da novela

Foto 4 - Francisco Cuoco e Betty Faria novamente formavam um casal em novela de Janete Clair

Foto 5 - Mário Gomes se consagrou como o aspirante a cantor Dino

Foto 6 - Cecil Thiré tinha papel de destaque na história contemporânea da novela

Foto 7 - Mário Gomes e Susana Vieira foram dois destaques do elenco de "Duas Vidas"

Foto 8 - Stepan Nercessian e Isabel Ribeiro viveram um romance proibido na história
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