Colunistas - Rodolfo Bonventti

ETERNA MEMÓRIA - RAUL SEIXAS

19 de Abril de 2016

(28/06/1945 – 21/08/1989)

 

O cantor que criou a Sociedade Alternativa

 

Raul Santos Seixas era baiano de Salvador e desde muito pequeno seu brinquedo favorito era mexer na extensa biblioteca do pai. Ele lia muito e em função disso criava histórias fantásticas que ele transformava em uma espécie de gibi. Seu personagem favorito era um cientista maluco que viajava no tempo, o senhor Melô.

Em 1954, aos 9 anos de idade, Raul Seixas ganhou seu primeiro violão e, sozinho, aprendeu a tocar algumas músicas. Foi morar com os pais e um irmão em uma casa que ficava próxima ao Consulado Americano e ali fez seu primeiro contato com o rock and roll ouvindo discos de Elvis Presley, Little Richard e Chuck Berry.

Em 1962, Raul formou com os irmãos Délcio e Thildo Gama, o grupo Os Relâmpagos do Rock, que dois anos depois virou The Panters ou Os Panteras e gravou o primeiro compacto simples com a música “Nanny”. Mais uma mudança no nome e o grupo se profissionalizou como Raulzito e Os Panteras.

O grupo foi convidado pelo cantor Jerry Adriani, então um dos grandes ídolos da Jovem Guarda, a gravar um disco no Rio de Janeiro, em 1968, que levou o título de “Raulzito e Os Panteras”. O disco não fez sucesso e o grupo se dissolveu.

De volta a Salvador, Raul Seixas não desistiu e em 1970, conheceu Evandro Ribeiro, diretor da CBS, que o convidou para ser produtor de discos na gravadora, e lá ele criou músicas e discos de sucesso para artistas como Jerry Adriani, Trio Ternura, Renato e Seus Blue Caps e Sérgio Sampaio, entre muitos outros.

Em julho de 1971, Raul lançou o controvertido LP “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista” com participações do próprio Raul, Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star. Mas o disco não teve a aprovação do presidente da CBS que o demitiu do cargo de produtor.

Um ano depois ele resolveu se tornar popular e competiu no VII Festival Internacional da Canção com duas músicas: “Eu sou eu, Nicuri é o Diabo” e “Let me Sing, Let me Sing”, conseguindo classificar ambas para a grande final.

Mas o sucesso mesmo veio em 1974 com a gravação do compacto simples “Ouro de Tolo”, que possuía uma letra autobiográfica. Foi então contratado pela Philips, a mesma gravadora que tinha no elenco seus conterrâneos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa.

Em 1975, em parceria com Paulo Coelho, Raul lança a Sociedade Alternativa, um conceito de sociedade livre inspirada no ocultista Aleister Crowley e que foi tema de uma de suas canções do disco "Gita", e resolve se dedicar aos estudos esotéricos.

O sucesso de “Gita” deu a Raul Seixas o primeiro Disco de Ouro, com mais de 600 mil cópias vendidas, e em 1976 ele lançou outro grande sucesso de vendas, o álbum “Há 10 Mil Anos Atrás”, com ele maquiado na capa como um “sábio ancião”. Nesses anos a parceria Raul Seixas/Paulo Coelho foi vital para que a crítica reconhecesse o talento dos dois como compositores e de Raul como cantor.

Com dois casamentos já desfeitos e duas filhas, Raul Seixas terminou também a parceria com Paulo Coelho e investiu tudo no contrato com uma nova gravadora, a recém-fundada WEA, onde em 1977 lançou o LP “O Dia em que a Terra Parou” que além da faixa título lançou outro grande sucesso, “Maluco Beleza”.

O terceiro casamento foi com Ângela Costa, que se transformou em Kika Seixas, e com quem ele se mudou para São Paulo e lançou o álbum “Abre-te, Sésamo”. A mudança para a capital paulista lhe fez bem e aqui ele passou a realizar muitos shows. Em fevereiro de 1982, por exemplo, ele se apresentou para 150 mil pessoas no Festival Música na Praia, em Santos.

Mas Raul nessa época já se mostrava depressivo e começou a beber exageradamente, tendo que cancelar shows por bebedeiras ou crises de hepatite. Foi um momento difícil na vida do cantor e compositor que não conseguia mais nenhuma oportunidade de gravar.

Foi João Lara Mesquita, jovem diretor do Estúdio Eldorado quem o tirou dessa situação, convidando-o a gravar, em 1983, o álbum “Raul Seixas”, um grande sucesso de vendas. Ele ainda gravaria na Som Livre o álbum “Metrô Linha 743”, mas novamente mergulhou em vários problemas particulares e acabou o casamento com Kika.

Em 1986, Raul lançou o álbum “Let me Sing my Rock and Roll”, que entrou para a história fonográfica brasileira como o primeiro disco produzido e distribuído independentemente por um fã-clube. Mas ele não conseguia divulgar muito seu disco porque continuava a abusar de bebidas alcoólicas e passou a ter uma saúde muito precária.

Mesmo assim, Raul Seixas ainda conseguiu colocar a música “Cowboy Fora-da-Lei” nas paradas de sucesso ganhando a inclusão da música na trilha sonora de uma novela da Rede Globo.

Em 1988, já muito debilitado, ele lançou o álbum “A Pedra do Gênesis”, onde voltava a falar da controvertida Sociedade Alternativa, e cuja música de sucesso foi “Não Quero Mais Andar na Contramão”.

Com o cantor e compositor Marcelo Nova ainda conseguiu fazer uma série de 50 shows pelo Brasil, mas Raul Seixas nos deixou muito novo, com apenas 44 anos, em agosto de 1989, falecendo em seu apartamento, no Centro da capital paulista, vitimado por uma parada cardíaca causada pela pancreatite de que sofria há dez anos.

Foto 1 - Raul Seixas ganhou o primeiro violão aos 9 anos de idade

Foto 2 - Raul como diretor da CBS no lançamento do disco de Sergio Sampaio

Foto 3   - O cantor na década de 60 se apresentando com o grupo Os Panteras

Foto 4 - Com  o escritor Paulo Coelho, uma parceria que rendeu várias músicas

Foto 5 - Raul Seixas na capa do LP "Raulzito e os Panteras", que não fez sucesso

Foto 6 - Na capa de um do seus mais respeitados discos pela crítica especializada

Foto 7 - Raul Seixas com o cantor Marcelo Nova no final da década de 80, nos últimos shows

 

 

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