Cultura - Teatro

SESC PINHEIROS RECEBE CARANGUEJO OVERDRIVE

12 de Fevereiro de 2016

NA ESTREIA DO GRUPO CARIOCA ‘AQUELA CIA. DE TEATRO’ EM SÃO PAULO

Espetáculo eleito entre os melhores de 2015 é inspirado em obra do ativista Josué de Castro e no Manguebeat de Chico Science 

De 16 de fevereiro a 10 de março

 

 

Foto: Elisa Mendes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caranguejo Overdrive narra a trajetória de um ex-catador de caranguejos, ex-soldado e ex-operário que, confrontado com a ebulição urbanística do Rio de Janeiro no século XIX, perde a condição humana e faz do delírio e da poesia as bases da sua existência

“No mangue tudo é, foi ou será caranguejo, inclusive o homem”. Esta frase de Josué de Castro, médico, geógrafo, escritor e ativista no combate à fome, transforma-se em uma sina inescapável em Caranguejo Overdrive, espetáculo que o Sesc Pinheiros recebe de 16 de fevereiro a 10 de março, em sessões às terças, quartas e quintas-feiras, às 21h. Apresentada no segundo andar da unidade, a temporada marca a estreia em São Paulo do grupo carioca Aquela Cia. De Teatro.

Encenado em 2015 no Espaço Sesc (RJ), no repertório comemorativo pelos dez anos d’Aquela Cia., Caranguejo Overdrive é um espetáculo musical dirigido por Marco André Nunes e ambientado em 1868, no contexto da Guerra do Paraguai. Narra a trajetória de Cosme (interpretado por Matheus Macena), um catador de caranguejos que se torna combatente, mas recebe baixa do exército brasileiro após ser acometido por uma crise de loucura em pleno campo de batalha. 

No retorno à vida civil, Cosme encontra um Rio de Janeiro em convulsões urbanísticas – uma cidade, para ele, irreconhecível e com sabor de exílio. Descobre que a região do mangue onde nasceu – então chamada Rocio Pequeno, hoje a Praça 11 – está aterrada e decide empregar-se na construção do Canal do Mangue, historicamente a primeira grande obra de saneamento do Rio.

Porém, mais uma vez Cosme sofre um colapso. Abandona o emprego e passa a frequentar a boemia do mangue, onde se relaciona com prostitutas e poetas românticos, envolve-se em brigas e disputas políticas, admitindo o delírio e a poesia como alicerces da sua existência. 

Num certo dia, é apanhado por uma tempestade tropical e, além de ex-catador, ex-soldado e ex-operário, perde também a sua condição humana. O desarranjo perante o mundo leva-o, por fim, à animalização: Cosme se torna um caranguejo, uma espécie de entidade espiritual que dialoga com a cultura e o imaginário do mangue.

Inspirado no livro Homens e caranguejos, de 1967, do ativista Josué de Castro, e no movimento Manguebeat do músico Chico Science, o espetáculo sintetiza a estética característica do trabalho da companhia. De um lado, está o vínculo com a literatura, presente em sua trajetória desde a montagem de estreia, Projeto K (2005), inspirado na obra do escritor tcheco Franz Kafka. 

De outro, está a potência da música original executada ao vivo (com bateria, percussão, guitarra, baixo e teclado), recurso que habilmente se transforma num organismo vivo nas encenações d’Aquela Cia. “Procuro criar um universo que soe familiar e que ao mesmo tempo traga algo de surpreendente, seduzindo o espectador para além do que está sendo informado ou compreendido, que lance dúvidas e o instigue a questionar o mundo em que vive”, explica o diretor Marco André Nunes.

Entram também em cena dispositivos hipertextuais, que ajudam o público a decifrar os acontecimentos e fluxos de consciência de Cosme, e há, ainda, espaço para o humor, sobretudo nas passagens da cientista e da prostituta paraguaia, personagens vividas por Carolina Virguez em atuação elogiada pela crítica teatral carioca. Completam o elenco os atores Eduardo Speroni, Matheus Macena, Fellipe Marques e Alex Nader. 

Caranguejo Overdrive recebeu quatro indicações ao Prêmio Shell (melhor direção, texto, ator e atriz), cinco ao Prêmio Questão de Crítica (melhor espetáculo, direção, texto, atriz e direção musical) e, das quatro indicações ao Prêmio Cesgranrio (melhor espetáculo, direção, texto e ator), foi contemplado nas categorias direção e texto. Foi também eleito um dos melhores espetáculos de 2015, na opinião do jornal O Globo e da revista Veja.


Sobre Aquela Cia. De Teatro (RJ)

Ancorada nas relações entre teatro e literatura, a Aquela Cia. nasceu em 2005, no Rio de Janeiro, a partir da reunião de artistas vindos das várias escolas de teatro da cidade. Seu trabalho de estreia foi Projeto K. (a partir da vida e obra de Franz Kafka), e vieram em seguida Sub:Werther (interpretação do romance Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, a partir dos intertextos do livroFragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes); Lobo nº1 [ A Estepe] (baseado no romance de Herman Hesse); e Do Artista Quando Jovem (em torno do universo literário de James Joyce). 

Em 2011, o grupo passou a investigar a relação entre teatro, música e espetacularidade, com Outside, um musical noir (a partir do encarte do álbum homônimo de David Bowie); Cara de Cavalo (que narra a trajetória trágica do inimigo público nº 1 do Rio de Janeiro em 1964, e suas interlocuções com a obra do artista Hélio Oiticica); e Edypop (explorando o encontro imaginário entre o mais pop dos herói gregos, Édipo, e o mais trágico dos artistas pop, John Lennon).

A concepção artística participativa é um dos pilares da atuação da companhia. “Somos movidos pela ideia de construir um espetáculo através de um processo aberto, que se renova a cada ensaio, em que atores e músicos são também criadores”, explica o diretor Marco André Nunes, cofundador do grupo ao lado de Pedro Kosovski. A música, sempre com banda em cena, em trilha e canções originais ou arranjos novos, “desempenha uma função quase narrativa; é uma dramaturgia musical no atravessamento entre teatro e música”, explica Kosovski. 

Em 2015, Aquela Cia. celebrou seus dez anos com as montagens de Caranguejo Overdrive e Laio & Crísipo, esta última uma atualização de um dos mitos fundamentais da cultura ocidental, narrado por Sófocles em Édipo Rei, que relata a relação homoafetiva entre Laio, um exilado, e Crísipo, o filho do rei.


Ficha Técnica 
Direção: Marco André Nunes 
Texto: Pedro Kosovski
Elenco: Carolina Virguez, Alex Nader, Eduardo Speroni, Fellipe Marques e Matheus Macena
Músicos em cena: Felipe Storino, Maurício Chiari e Samuel Vieira
Direção musical: Felipe Storino
Iluminação: Renato Machado
Instalação cênica: Marco André Nunes  
Ideia original: Maurício Chiari
Realização: Aquela Cia. De Teatro


Serviço
Caranguejo Overdrive – Com Aquela Cia. De Teatro
Data: 16/2 a 10/3 (terças, quartas e quintas-feiras, às 21h)
Local: 2º andar – Sesc Pinheiros (92 lugares)
Duração: 75 minutos
Classificação: 16 anos
Ingressos: R$ 7,50 (Credencial Plena: trabalhador do comércio de bens, turismo e serviços matriculado no Sesc e dependentes); R$ 12,50 (Meia entrada: estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentado e pessoas com deficiência); R$ 25 (Inteira). Ingressos à venda pelo Portal www.sescsp.org.br e nas bilheterias das unidades do SescSP. Limitação: quatro ingressos por pessoa. Não é permitida a entrada após o início do espetáculo.

 


SESC PINHEIROS

Endereço: Rua Paes Leme, 195.

 

Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 21h. Domingos e feriados das 10h às 18h. 
Tel.: 11 3095.9400.


Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 22h; Sábado, domingo, feriado, das 10h às 19h. Taxas / veículos e motos: Matriculados no Sesc: R$ 7,50 nas três primeiras horas e R$ 1,50 a cada hora adicional. Não matriculados no Sesc: R$ 10,00 nas três primeiras horas e R$ 2,50 a cada hora adicional.

 

 

 

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