Colunistas - Rodolfo Bonventti

A obra de Dias Gomes que os militares proibiram um dia antes da sua estréia

28 de Dezembro de 2015

Muito expectativa naquele final de agosto de 1975 nos corredores globais: era a estréia do sempre polêmico mas genial Dias Gomes no horário das 20h30 com a sua “Roque Santeiro”, ou no original que o autor entregou para a direção da TV Globo: “A Fabulosa Estória de Roque Santeiro e de Sua Fogosa Viúva, a Que Era Sem Nunca Ter Sido”.

A novela deveria ter estreado em 27 de agosto de 1975 substituindo “Escalada” que deixava o ar com a audiência em alta, mas 24 horas antes dessa estréia, a TV Globo foi notificada pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), em nome da Censura Federal, então controlada pelos militares, de que a novela estava proibida de ir ao ar por atentar contra o pudor e as normas vigentes por ser a adaptação de uma obra do próprio Dias Gomes, “O Berço do Herói”, que já havia sido censurada anteriormente.

Com mais de trinta capítulos já gravados e uma intensa propaganda na mídia, a notificação caiu como uma “bomba” na emissora que não tinha o que colocar no ar naquela segunda à noite. Às pressas a direção da TV Globo resolveu reprisar a novela “Selva de Pedra”, um grande sucesso três anos antes, enquanto tentava negociar com o governo militar a liberação da novela de Dias Gomes.

Mas a liberação nunca veio, meio que como um castigo para Dias Gomes, que nunca escondeu suas ideologias políticas. E assim só restou a TV Globo recorrer a Janete Clair para que ela, a toque de caixa, abandonasse a novela das sete e deixasse a mesma aos cuidados de Gilberto Braga, e escrevesse uma substituta para estrear em no máximo 45 ou 50 dias, tempo em que “Selva de Pedra” ficou sendo reprisada.

Dias Gomes e a TV Globo só conseguiram levar ao ar “Roque Santeiro” dez anos depois, já no governo José Sarney, quando a censura foi abrandada, se transformando em um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira de todos os tempos.

A novela girava em torno da cidade fictícia de Asa Branca, onde tudo acontecia em torno do mito de um tal "Roque Santeiro", um jovem escultor de imagens sacras que dizia-se ter morrido em uma batalha contra os cangaceiros liderados por "Navalhada", quando esses invadiram a cidade. Após a sua morte ele vira um herói e alguns  querem a sua canonização, só que ele não morreu de fato e retorna à cidade para desespero daqueles que faturavam alto com o turismo em torno do mito que fazia “milagres”.

O elenco inicial tinha Lima Duarte como o poderoso Sinhozinho Malta; Betty Faria como a viúva Porcina e Francisco Cuoco vivia o personagem título, Roque Santeiro. Ainda nesse elenco, Emiliano Queiroz era o Zé das Medalhas; Rosamaria Murtinho era Matilde, a dona do cabaré; Milton Gonçalves o Padre Honório; Lutero Luiz o prefeito Florindo Abelha; Eva Todor vivia dona Pombinha Abelha; Theresa Amayo era Dona Mocinha e Denis Carvalho interpretava o galã Roberto Mathias.

Nesse primeiro elenco, “Roque Santeiro” ainda contava com Elisângela, Elza Gomes, André Valli, Luiz Armando Queiroz, Dary Reis, Débora Duarte, João Carlos Barroso, Ilva Niño, Waldyr Maia, Ivan de Almeida, Leina Krespi, Lady Francisco, Germano Filho, Sandra Barsotti, Rafael de Carvalho, Catulo de Paula, Maria Cristina Nunes e Wálter Santos.

Dez anos depois, poucos foram os atores que se mantiveram no elenco da versão de 1975, e apenas Lima Duarte repetiu de forma brilhante o Sinhozinho Malta, além de Luiz Armando Queiroz (Tito), João Carlos Barroso (Toninho Jiló) e Ilva Niño (Mina).

Um duro golpe da censura militar que entrou para a história da nossa teledramaturgia, mas que não “apagou” a excelente obra de Dias Gomes que voltou em 1985 ainda mais polêmica.

Foto 1 - A abertura da novela era bem mais simples na primeira versão em 1975

Foto 2 - Betty Faria era a primeira Viúva Porcina e contracenava com Lima Duarte

Foto 3 - Betty e Lima gravaram vários capítulos como Viúva Porcina e Sinhozinho Malta

Foto 4 - Lima Duarte, Luiz Armando Queiroz e Sandra Barsotti na versão proibida da novela

Foto 5 - Na versão proibida Lima Duarte e a enteada Débora Duarte contracenavam juntos

Foto 6 - Elisangela e Elza Gomes também estavam no elenco da novela de Dias Gomes em 1975
 

 

 

 

 

 

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