Colunistas - Rodolfo Bonventti

Era uma vez na TV: Polêmico, Ousado, Irreverente. Essas eram as marcas de Flávio Cavalcanti

9 de Março de 2011


Flávio Cavalvanti nos anos 60

Ele estreou como repórter no jornal carioca "A Manhã" em 1946, mas foi a partir de 1954, quando fez seu primeiro programa de rádio, o "Discos Impossíveis", na Rádio Mayrink Veiga, que o estilo Flávio Cavalcanti (1923-1986) marcou definitivamente a história dos comunicadores brasileiros.

Nascido Flávio Antonio Barbosa Nogueira Cavalcanti, na Cidade Maravilhosa, ele se transformou em uma das figuras mais polêmicas, ousadas, irreverentes e inteligentes da tv brasileira. Depois do sucesso alcançado com a crítica de discos no programa da Rádio Mayrink Veiga, Flávio Cavalcanti chegou à televisão em 1955, ao lado de Jacinto de Thormes com o programa "Nós os Gatos". Mas o sucesso definitivo surgiria dois anos depois, primeiro com o "Noite de Gala" e logo em seguida com o "Um Instante, Maestro!".


Flávio Cavalvanti apresentando "Um Instante, Maestro!"

Ao mesmo tempo em que fazia peripécias como repórter - entrou para a história do telejornalismo nacional sua entrevista exclusiva com o presidente norte-americano John Kennedy, em 1961, mesmo sem saber falar uma palavra em inglês - Flávio Cavalcanti impunha um novo estilo na forma de apresentação dos programas noturnos da nossa tv, usando smoking no "Noite de Gala" e terno e gravata em todos os outros programas.

Com a mesma postura que apresentava grandes nomes da MPB, ele dava chance a novos valores e revelou grandes cantores como Emilio Santiago e Célia. Mas se a música ou principalmente a letra não lhe agradava, ele não tinha a menor dúvida em quebrar o disco na frente dos telespectadores e soltar o verbo para criticar a música ou o próprio intérprete. Nessa polêmica, Flávio defendia a censura e provocava artistas como Caetano Veloso, Maria Bethânia e Ney Matogrosso, entre muitos outros.

Ao unir o "Noite de Gala" com o "Um Instante, Maestro!" e os dois com o "A Grande Chance", ele criou o "Programa Flávio Cavalcanti", que a partir de 1970 se transformou em um dos maiores sucessos da televisão brasileira. Nessa época, o seu programa representava, sozinho, um terço do faturamento comercial da TV Tupi e rendia toda semana índices de mais de 70% de audiência.


Logo do Programa Flávio Cavalcanti

O público de Flávio Cavalcanti era basicamente formado pelas classes A e B e ele foi muitas vezes acusado de ser um defensor da sociedade pregada pelos nossos militares após o Golpe Militar de 1964. Apesar dessa imagem, Flavio fez entrevistas memoráveis com o político Tenório Cavalcanti, o conhecido "Homem da Capa Preta", e teve seu programa censurado na década de 1970 pelas referências e críticas que fazia, e por frases polêmicas como "a censura é que educa".

O apresentador também é conhecido como o primeiro a adotar um júri de personalidades em um programa de TV, formado por nomes como o maestro Erlon Chaves, as atrizes Márcia de Windsor e Leila Diniz, Oswaldo Sargentelli, José Messias, Marisa Urban, Sérgio Bittencourt, Clécius Ribeiro e Marisa Raja Gabaglia, e por criar gestos marcantes como o tirar e colocar os óculos a todo momento ou a mão direita estendida para o alto ao anunciar os comerciais.

Flavio Cavalcanti faleceu em 16 de maio de 1986, vitimado por um enfarte fulminante, horas depois de apresentar o "Programa Flavio Cavalcanti", no SBT, em São Paulo.

E na próxima semana, a televisão é invadida por heróis como Oliver Twist, Pollyana, Tom Sawyer e Heidi.

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