Cultura - Música

E A ESTRADA DA VIDA SILENCIA MAIS UMA VOZ...

26 de Junho de 2015

Por Cau Marques 

Semana triste... sempre é muito ruim vermos partir um companheiro de profissão. Quem vive de música entende e conhece o lado da correria dos shows, mas os fãs não sabem disso e nem precisam saber. Os fãs de um artista são a base de tudo! Sem os fãs não existe show, não existe público, não existe moda, não existe nada! Tudo no artista e na música é pensado para agradar e cativar o público e, quando isso acontece, pode-se estar muito próximo do sucesso. O sucesso traz consigo um pacote de ações que começam a ser tomadas para “preservar” o artista e para valorizá-lo, aumentando cada vez mais a demanda de shows e aparições pelo país afora.

 
 

A loucura midiática que rodeia um artista em ascensão é a mesma em qualquer lugar do planeta e, transformar um artista em “produto”, acaba por desumanizar um ídolo. O estilo mais fervilhante do nosso Brasil, já há alguns anos, é com certeza o novo sertanejo e, ao mesmo passo que se torna onipresente, o torna cada vez mais comercial e impessoal. A busca desenfreada dos empresários e escritórios pela próxima música de sucesso transcende o valor do artista em si. Por aqui, os tapetes vermelhos apenas são estendidos enquanto a música do artista for novidade e estiver no topo das paradas, na maioria das vezes, pagas.

No caso trágico desta semana, que vitimou o cantor Cristiano Araújo, podemos lamentar algumas práticas corriqueiras do “showbiz”. O acúmulo de shows e o cansaço talvez sejam os principais fatores que conseguimos perceber! Todo e qualquer artista quer ter a agenda lotada de shows, é para isso que se trabalha, muitas vezes por décadas, até atingir este nível. Talentoso, afinado, muito bem produzido e com um repertório atual, o sertanejo Cristiano estava colhendo os frutos desse árduo trabalho. O grande problema é a organização e a sobrecarga nas agendas. Em outros países, as turnês de shows obedecem uma sequência geográfica mínima: começam os shows do norte para o sul, ou do leste para o oeste, enfim, existe uma sequência. Mas, aqui, existe uma ânsia de cumprir as demandas e esquecem que o artista é, sobretudo, HUMANO, bem como a equipe que o acompanha.

Portanto, a possibilidade de acontecer um problema, principalmente nas “maravilhosas” estradas brasileiras, se torna muito grande para quem vive viajando. É possível se vislumbrar um cenário muito comum para o que aconteceu no incidente da quarta feira:  Após um show muito bem sucedido e na sequência de outros vários que já havia feito, Cristiano recebe alguns repórteres no camarim, esbanja seu carisma e, assim como tem feito nos últimos tempos, deixa o local do evento lotado de pessoas gritando de alegria e chamando seu nome. Por estar a pouco mais de 100km da casa de seus pais, resolve ir descansar em casa, afinal, depois de tantos shows, é sempre melhor a nossa casa do que um hotel. A chave do carro é entregue para o motorista de confiança e Cristiano, juntamente com sua namorada, segue feliz, descansando no banco de trás... os dois, cansados do ritmo do trabalho, mas tranquilos por terem cumprido mais esta noite de sucesso, talvez possam até ter esquecido de afivelar seus cintos de segurança. Então, mais rápido que possam sequer acordar do possível cochilo, o mundo vira ao contrário...

Quase todas as pessoas que conheço, mesmo as mais prudentes, podem sucumbir ao cansaço.

Cristiano deixou milhares de pessoas felizes com a sua música nos anos em que se dedicou a esta carreira e, tentando enxergar dentro do coração de um artista, sei que estava feliz por estar fazendo o que mais amava, que era levar sua música para as pessoas. Suas músicas novas não existirão, mas sua voz já está gravada na vida das pessoas que o acompanharam e admiraram

O pensamento que deixo é: Será que é necessária uma agenda tão absurdamente lotada? Não só os famosos, mas conheço inúmeros artistas que, para garantir uma vida com o mínimo de conforto, chegam a fazer 3, 4 shows por dia ou mais! Vários passam por acidentes, assaltos e outras realidades que assombram as noites das cidades, das estradas e dos artistas. Será que não vale uma pausa, um respirar fundo e refletir sobre aquilo que realmente é necessário...?       

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